Marcel não era apenas um rafeiro. Anos antes, durante uma tempestade, entrou no café como um cãozinho sarnento. A dona, Madame Claire, movida pela compaixão, ofereceu-lhe um prato de restos de frango assado. A partir desse dia, Marcel autoproclamou-se mascote oficial do clube.
Com o passar dos anos, Marcel tornou-se presença assídua. Todas as manhãs, andava de um lado para o outro entre as mesas enquanto o pessoal arrumava o bistrô, verificando as cadeiras e as mesas como se fossem passar pelo seu exame cuidadoso. Ao meio-dia, escolhia a sua mesa favorita, iluminada pelo sol, e aconchegava-se para dormir uma sesta, ignorando as gargalhadas divertidas dos clientes.
Os turistas fotografavam-no frequentemente, apelidando-o de "Rei do Café Soleil". Os habitantes locais brincavam dizendo que Marcel tinha o melhor emprego da cidade: dormir, comer e desfrutar da adoração dos transeuntes. Alguns acreditavam mesmo que trazia boa sorte ao bistrô, pois os negócios prosperavam sob o seu olhar atento e sonolento.
Uma tarde, enquanto Marcel dormitava na sua mesa favorita, uma jovem artista chamada Lucille desenhou-o a tomar o seu café. Inspirada pela sua elegante indiferença, pintou um quadro dele no seu reino do café. A obra chamou a atenção de um negociante de arte, e depressa a imagem de Marcel começou a decorar postais, canecas e até um mural na parede do bistrô.
Marcel, claro, permaneceu completamente alheio à sua fama. Tudo o que lhe importava era que a sua mesa estivesse sempre ali, que o sol a atingisse todos os dias e que, de vez em quando, um pedacinho de salmão fumado aparecesse misteriosamente ao seu lado.
Numa cidade de luzes brilhantes e encanto infinito, Marcel foi um pequeno, mas delicioso, lembrete de que, por vezes, a vida perfeita é tão simples como uma mesa quente, uma barriga cheia e um raio de sol.
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